Sei algumas coisas de Dublin

Quando acordamos está frio lá fora; o vento, sabemos, vai nos gelar a cara
Quando acordamos abrimos a porta do quarto e preparamos mais uma jornada:
A jornada pelas ruas da cidade, de café em café, de hotel em hotel, assistindo à cidade.
ela não pára, não pára e nós assistimos a isso.
As pernas vão mais do que podem e vemos muito mais do que esperávamos.
Vamos entregando os nossos nomes a desconhecidos porque é assim o jogo.
E há aventuras... contos de Dublin... nós sabemos porque os escrevemos nos nossos passos:

Sei de um hotel que tem um piano que toca sozinho. Perguntei-lhes na recepção:
"Hi do you have a piano player?"
E sorrindo sarcasticamente a recepcionista responde:
"No... but we don´t need one at the moment. The piano plays itself."
Tocava sozinho dizia a recepcionista. Eu vi: um cd escondido algures e umas teclas que se mexiam friamente. Nunca fui tão humilhado artisticamente como naquele dia...

Sei de uma semana que não foi boa... daquelas semanas de náusea, em que o corpo e a mente parecem não se ter adaptado a um novo modo de vida... Alguma coisa desequilibrou-me e atirou-me para... a sanita. Lembrem-se, levem sempre dimicina para uma aventura como esta.
Sei que fiquei preso a casa num estado tísico frente ao computador, a substituir os passeios da cidade pela Internet, entregando CV's no mundo virtual.

Também sei que é guerra a busca de emprego. Eu assim ensino-vos:

- Aldrabem o CV.
- Ignorem os empregados e dirijam-se ao manager.
- Qualquer novo amigo da noite é um potencial conhecedor de uma vaga num sítio qualquer.
- Caminhem mais do que acham que é preciso; mandem mais mails do que os necessários.
- Sorriam simplesmente e sejam malandros.

Sei ainda que quando saímos os três de casa numa sexta-feira à noite, um não vai bêbado.
Sei que quando saímos os três nessa noite e à mesma hora, um vai seguir outro caminho.
Sei que nessa noite dois vão curtir de bar em bar e o outro ficará preso a uma responsabilidade até às 7 da manhã.

Enfim, sei ainda muita coisa daqui e que não vos vou contar...